A área sócio cultural “Va-nganda” compreende as comunidades que se fixaram à margem do rio Catumbela, no interior da província de Benguela, na área geográfica em que se circunscrevem as actuais regiões da Ganda, Alto Catumbela e Babaera. Estes limites são apenas convencionais, uma vez que as comunidades em questão ultrapassam-nas em área de contacto com as vizinhas. |
Estas populações têm como actividade económica fundamental a agricultura e pecuária. Registos históricos fazem contudo referência a intenso movimento de comércio dos va-nganda com as comunidades vizinhas, que viria a ser interrompido pelas campanhas de ocupação desencadeadas pela potência colonizadora. A música e a dança ocupam um lugar de destaque na cultura dos va-nganda. O culto dos antepassados, a veneração à maternidade, bem como a representação de ritos que retratam as inquietações socioculturais do homem va-nganda em relação à vida e natureza são motivos frequentes de criação artístico–cultural. Referência obrigatória deve ser feita ao popular e sempre presente chinganji, bailarino mascarado animador das festas cíclicas ou rituais, desempenhando-se como justiceiro, cómico ou portador de poderes sobrenaturais, conforme a ocasião. |
Como todas as máscaras, esta também reflecte mistério, diferenciando-se das demais por ser transmissora de alegria ou boa disposição. Embora possa apresentar feições femininas, a máscara chinganji é exclusivamente utilizada por homens com estatuto social particular. Geralmente ela evolui ao som de vários instrumentos musicais tradicionais e cânticos entoados pelos circunstantes que participam na cerimónia a ter lugar na altura. No meio de tudo isso, os va-ngandas são bons criadores de belas mensagens poéticas, transmitidas em forma de cânticos e corais, evoluindo muitas vezes com o apoio do chinganji. |
O Neps - Núcleo de Estudos de População e Sociedade, da Universidade do Minho, Guimarães, Portugal, publica no seu
Boletim Informativo Nº20,
de 20 de Julho 2001, na página 12, um interessante artigo de Luis Polanah sobre os Ovinganji no Andulo. No início dos anos 70, Luis Polanah produziu
abundantes artigos sobre os povos de Angola.
"Os mascarados faziam a sua aparição quando a tarde declinava. Rodeados pelo povo estavam os tocadores de tambores tradicionais que iniciavam os primeiros toques, preparando o compasso das danças. De um moitedo, surgiam os ovinganji, que dançavam afastados de um público curioso. Entre aqueles e estes, podiam separar mais de cem metros. Somente os ovilombola, os que já haviam sido iniciados noutro período, poderiam aproximar-se deles. Todavia, era raro que o fizessem, para não quebrar a emoção dos espectadores. A distância era respeitada por todos; qualquer tentativa curiosa da multidão de espectadores faria os dançarinos sumir no mato. À medida que a tarde declinava, o grupo dos ovinganji aproximava-se mais do público, que seguia interessado o espectáculo. Os "espíritos" (assim deveriam ser tomados os ovinganji) são atraídos pelos ritmos tirados dos tambores. Dançando sempre à distância, não mostarm os pés. Causam a impressão de que os não possuem, ou não estão pousados no solo..." |
Tchikakata Balundo - No seu livro "O FEITIÇO DA RAMA DE ABÓBORA", um romance fantástico polvilhado de adivinhas, lendas, histórias, factos, usos e costumes, publicado pelo Campo das Letras, Porto 1996,
escreve:
"A dança atinge o seu auge sem que as mulheres e os garotos ponham de parte toda a prudência possível. Continuam a manter a mesma distância. Aproximam-se quando os movimentos dos mascarados são mais pacíficos. Passa-se agora precisamente o contrário. As mulheres notam os ovinganji a chegarem-se a elas. Correm apavoradas e aos gritos. Os garotos seguem-lhes atrás. Os mascarados já não bamboleiam. Sondam os espectadores e fazem-lhes ver um pequeno machado e um chicote que cada um traz, na mão esquerda e na direita, respectivamente. Não se lhes exaure a vontade de meter medo às pessoas. Os três em conjunto levantam os chicotes e, repetidamente, batem-nos no chão. Ouvem-se estridulações que nos ensurdecem e se perdem no arvoredo que circunda o pátio. Quem de entre nós gostaria de ser trespassado pelo olhar invisível do ondele (espírito maligno) encafuado dentro da máscara?" |